quinta-feira, 5 de julho de 2012

1982, ferida aberta.

Não, hoje não falarei do título corinthiano na Taça Libertadores. Afinal, em 5 de julho de 1982, a Itália vencia o Brasil, por 3 a 2, na Copa da Espanha.

São exatos 30 anos da tragédia do Sarriá. Muita tinta já foi usada para falar do triunfo italiano; ou da derrota do futebol-arte brasileiro.

Hoje, 30 anos depois, com exceção do surgimento de alguns valores individuais, não há mais futebol-arte por aqui. Enquanto isso, ironia das ironias, espanhóis e até alemães (!!!) buscam implementar um futebol mais alegre, ofensivo e vistoso.

O que passo a escrever, certamente, é lugar comum, mas a grande verdade é que, após aquele "crime" contra o futebol-arte, foi possível perceber, ao longo dos anos, como nossa derrota foi maléfica para o futebol.

No Brasil, após as Copas de 82 e 86, grassou a ideia, oriunda de certos "treineiros" (não dá pra chamá-los de técnicos, tampouco treinadores), de que o futebol deve ser eficiente, prezando apenas os resultados, por isso mesmo com viés defensivo. Com essa filosofia, fomos campeões mundiais em 1994. Ah, alguém se lembra, saudosamente ou com emoção, da seleção de 94? Muitos nem sabem sua escalação de cor. Já a escalação de 1982, para mim, é inesquecível.

Sim. A ferida de 1982 está lá, aberta, para quem quiser ver. E isso é bom. Significa que, por mais que certos "treineiros" tentem, não nos esquecemos das nossas origens. Do nosso estilo. Do jeito brasileiro de jogar futebol. Como artistas da bola. Não nos esquecemos do Friedenreich, do Fausto, do Leônidas, do Ademir Menezes, do Nilton Santos, do Didi, do Tostão, do Gérson, do Riva, do Garrincha e do Pelé. E não nos esquecemos de Waldir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico, S. Chulapa e Éder. E de Telê Santana, verdadeiro técnico. Todos estes jamais serão esquecidos. Nem deixarão de ser admirados.

E se há tanta admiração, por que não tentar reencontrar nosso estilo de jogar futebol? Por que não utilizar zagueiros e meias que saibam jogar, sem se limitar a marcar o adversário? Por que não incutir em nossas escolinhas e divisões de base um estilo ofensivo, alegre, dando preferência à escolha das crianças pelo talento apresentado, e não pelo porte fisico ou altura? Por que não utilizar nosso antigo jogo de passes curtos, com a chegada de vários jogadores para prestar apoio à jogada? Por que não dar liberdade para os laterais atacarem, juntos, se quiserem? Por que não ter pontas, com constante inversão de posições com meias e laterais?

Muitos falarão: o Barcelona fez (e faz) isso. Os zagueiros sabem jogar e saem pro jogo. Há constante troca de posições. Nas escolinhas do Barça, tem prioridade o mais talentoso, e não o mais forte. Exemplo é o Messi. Essa filosofia não tem dado resultado?

Não espero, nem desejo, que copiemos a filosofia dos catalães. Temos nossa identidade própria, mas temos que incentivá-la, redescobrí-la. Assim, retornará o futeol-arte.

Hoje, vendo os jogos do Campeonato Brasileiro, me sinto assistindo ao Campeonato Inglês: muita força física, jogadores altos e muitos cruzamentos na área. É o reflexo da mentalidade dos nossos "treineiros". A imaginação, ali, anda escassa...

Para concluir este "texto-desabafo" em homenagem ao escrete canarinho de 1982: nunca esquecerei daquele timaço! Dos gols do Zico, dos passes do Sócrates, da classe do Falcão, das investidas do Júnior, das patadas do Éder, das trombadas do Serginho... Mas, acima de tudo, nunca esquecerei do futebol-arte, do jeito brasileiro de jogar futebol, que as gerações mais novas nunca viram. Saudades!!

Cá entre nós: prefiro perder, como em 1982, do que ganhar, jogando como em 1994.

Voa, canarinho, voa!!




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