segunda-feira, 23 de julho de 2012

E se existisse uma equipe com dez camisas 10?

Sábado, início da tarde. Após uma manhã prazerosa de futebol de botão, partimos para a tradicional "resenha", Jan, Digão, Carusão e eu. Obviamente, além do futmesa, o assunto foi o futebol, dos campos.

Papo vai, papo vem, chegamos ao ponto unânime de que falta qualidade no futebol brasileiro. Infelizmente, em nossas divisões de base, a prioridade hoje é pela altura e força física, em detrimento da técnica e do talento. Mais uma vez, mencionamos o Barcelona, equipe que possui jogadores técnicos em todas as posições. Os zagueiros sabem sair jogando, como jogadores de meio de campo. Isso porque Pepe Guardiola, dentre as diversas inovações que trouxe, escalou Mascherano, um volante, como zagueiro, o que fez com que a saída de bola e a transição defesa-ataque ficassem ainda melhores. Consequência: mais qualidade e posse de bola do time catalão. No meio, vários jogadores talentosos jogando juntos: Messi, Xavi, Iniesta. No ataque, Fábregas, típico camisa 10.

Elogiamos, ainda, as seleções espanhola e alemã. Equipes que, hoje, priorizam a qualidade, ocupando seus quadros com jogadores que sabem jogar futebol, e não apenas destruir. A Espanha de Iniesta, Xavi, Fábregas, Xabi Alonso, entre outros, é o maior exemplo disso. Contudo, não nos esqueçamos da Alemanha, equipe que, até 2002, encontrava-se em acentuado declínio, mas que apostou em jogadores jovens e habilidosos para trazer talento a um futebol seco e pragmático. Veja-se a bela sacada do técnico Joachim Löw, que recuou Schweinsteiger, antigo meia ofensivo, para a posição de volante. Assim, houve uma melhora clara na qualidade do meio de campo alemão, com maior posse de bola e mais qualidade na saída de jogo, sem prejuízo da marcação e do combate.

Falamos, também, da seleção brasileira de 1970. Cada posição possuía um jogador talentoso. No ataque, com poucas exceções, não havia a necessidade de ocupação de lugares fixos. Mas, acima de tudo, possuíamos, em nossa linha de frente cinco jogadores que em seus clubes vestiam a camisa 10. Isso mesmo: cinco! Rivelino, Gérson, Tostão, Pelé e Jairzinho.

Sim, podem até falar que Gérson e Jairzinho, por mais que vestissem a camisa 10 em seus clubes, não seriam um "10" característico. Afinal, Gérson jogava mais como um nº 8, recuado, articulando as jogadas com passes e lançamentos longos. Já Jairzinho era um atacante mais agudo, muitas vezes um ponta de lança, podendo vestir a 7, camisa que envergou no México. Mas, o fato, é que os cinco vestiam a camisa 10 em seus clubes. Cinco craques!

Então, o grande amigo Carusão, com percepção ímpar, dispara: "uma equipe imbatível, que jogaria bonito e seria eficiente, seria a que utilizasse dez camisas 10, ou seja, um camisa 10 para casa posição de linha!" Continuou: "claro que cada um teria que treinar em sua nova posição, mas jogadores inteligentes e habilidosos não teriam dificuldade"!

Isso me fez parar pra pensar: uma equipe com dez camisas 10! Que sonho! Claro, isso demandaria treino. Mas, a parte fácil do futebol é desarmar o adversário. E, quando você lida com jogadores inteligentes, típicos camisas 10, tudo fica mais fácil, desde o treinamento da parte tática, até o acerto para manutenção da posse de bola, efetividade no combate e saída de jogo em velocidade.

Pensando bem: isso seria, sim, plenamente viável e teria grandes chances de dar certo! Ainda mais hoje, em um futebol em que não há necessidade de ocupação de posições fixas. Vejam o Daniel Alves, pelo Barcelona: faz diversas funções. Podemos dizer que ele é qualquer coisa, menos um lateral direito típico. Logo, quantos camisas 10 o Barça teria hoje? Pelo menos 4: Messi, Iniesta, Xavi e Fábregas. Contando com o Dani Alves, seriam cinco. E vejam o êxito do time catalão!

Então, trazendo para o Brasil, historicamente falando, imaginemos uma seleção cheia de camisas 10! De repente, os mais altos e fortes poderiam formar a dupla de zaga. Por exemplo, Raí e Kaká. Um mais lento, outro mais veloz, ambos altos e com bom porte físico. Pelas laterais poderíamos ter Ronaldinho Gaúcho, pela direita e Rivaldo, canhoto, pela esquerda. Como volantes, Gérson e Zizinho (ou Ademir da Guia). No ataque, mais quatro camisas 10: Zico, Rivelino, Tostão e Pelé! Que timaço! E ainda ficariam de fora Dirceu Lopes, Sócrates (outro nº 8 com jeitão de 10) e outros mais.

Sim, algumas injustiças seriam cometidas: perderíamos o talento de Garrincha? Não, para gênios como Garrincha, sempre haverá lugar, por mais que ele não seja um típico camisa 10. Êpa, mas lembremos que, na Copa de 1962, Garrincha, com sua genialidade, foi tudo, inclusive atuando também como um camisa 10!

Atacantes como Romário, Roberto Dinamite, Ronaldo, também não podem ser esquecidos. Defensores como Domingos da Guia, Aldair, Carlos Alberto Torres, fizeram história. O objetivo, aqui, não é fazer pouco de jogadores tão importantes. Mas sim, mostrar que, no futebol de hoje, uma equipe com o maior número possível de camisas 10 levaria grande vantagem sobre as outras.

E aqui chegamos à triste conclusão: quantos camisas 10, hoje, poderiam compor uma seleção brasileira? Oscar, Ganso, Lucas e, forçando a barra e sem unanimidade nenhuma, Ronaldinho Gaúcho. Claro, ainda teríamos o talento de Neymar, Daniel Alves e Tiago Silva. Mas, para uma seleção brasileira, é pouco. Muito pouco. Hoje, no Brasil, seria impossível formar, pelo menos, um ataque inteiro de camisas 10. Ruim para o nosso futebol. Uma pena para o espetáculo.

Qual sua opinião? Daria certo formar uma equipe inteira, dos zagueiros aos atacantes, apenas de camisas 10? Isso seria a saída para a seleção brasileira? Deixe seu comentário!

PS. Cá entre nós: a seleção brasileira de 1970 era moderna pra caramba!!!

Sobre os maiores camisas 10 do futebol brasileiro, há um ótimo livro de autoria do Marcelo Barreto.

Um comentário: